sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Certo ou errado.

Eae galera. Eu estava pensando sobre essa nossa sociedade maluca, e sobre como essas palavrinhas ai do título causam confusão. Hoje eu vou tentar mostrar pra vocês, com muita brutalidade e nenhum espaço para contra-argumentação, a minha visão sobre as denominadas moral e ética da atualidade.

Cultura e entreterimento

Vou narrar um fato pra vocês: numa fatídica tarde de domingo, durante o evento mais assistido da tv norte-americana, a final do Super Bowl, uma bomba. No intervalo, quando diversos artistas fodásticos da atualidade realizam o seu trampo, seja lá qual for ele, acontece: Justin Timberlake e Janet Jackson, numa apimentada performace no palco, se empolgam um pouco mais, Justin arranca uma parte da roupa de Janet e, exposto aos olhos de milhões, um mamilo decorado com um sol de prata.

Impressionante né pessoal: um esporte, um mamilo, um desastre. Por causa desse pedaço de corpo humano que todo mundo um dia chupou, a emissora de tv CBS levou uma multa daquelas, todos os noticiários do país comentaram extensivamente a falta de respeito para com o cidadão americano por parte dos artistas, e foram criadas regras detalhadas de comportamento sobre o palco desse evento.

Cara, por que?

Eu não entendo. Mas analizemos. É tão revoltante assim, uma real falta de respeito? Eu já presenciei várias vezes, por exemplo, mães de bebês de colo amamentando seus filhos em público. Ninguém pareceu se importar. Vejamos então o contexto: duas pessoas dançando e cantanto, um mamilo sai pra fora; dedução básica, sexo. Uma mãe amamentando seu filho na arquibancada daquele mesmo evento; dedução básica, nada, de boa, tá certinha uai. Qual será de fato o problema?

Essa moral norte-americana, defendida a toda custa por diversos orgãos privados e governamentas com suas siglas esquisitas é, na minha opinião, um desastre. O julgamento de certo e errado é prematuro, infundado e propagandeado como absoluto. Esse caso do Super Bowl é só uma caricatura de tudo isso, mas vamos pegar um outro exemplo.

Jack Thompson.

Pra quem não conhece, esse cara é um advogado norte-americano que tem como objetivo de vida crucificar todos os games que contém violência. Sabem aqueles casos que acontecem lá nos states, quando um cara dá a louca, pega uma(s) arma(s), saem matando todo mundo e depois se auto-despacham para o além? Pois é, em todos eles, nos últimos 10 anos, Jack Thompson afirmou que o autor do absurdo é obviamente um gamer. Com esse egocentrismo mesmo. "Se um rapaz que nunca fez mal a ninguém, nunca teve nenhum incidente violento na vida e, de repente, mata 7 pessoas da escola em que estuda, ele é obviamente um gamer, treinado para a violência por jogos eletrônicos". E põe fechar aspas nisso viu. O interessante é que em apenas um desses casos houve qualquer indício de games envolvidos, aquele de Columbine, lembra? Pois é. Só um.

E qual é a moral por traz dessas afirmações? Sãos games abusivamente violentos a causa de estopíns sangrentos de adolescentes americanos? É certo, então, que o fácil acesso a armas de fogo não contribui com esses ataques? Apesar de países asiáticos como Coréia do Sul e Singapura terem a maior população gamer do planeta, não possuem nem um décimo de incidentes desse tipo quanto os EUA. Hmmmm... interessante né. Mas, e a moral? E a ética?

Em sua maioria, a população norte-americana apoia as pelejas de Jack Thompson. E, aparentemente, o Estado Brasileiro também né. Ou seja, teoricamente, as afirmações desse cara são bastante alinhadas com a moral da não-violência. No meu ver, no entanto, essa descriminação com as pessoas que jogam sim os jogos violentos e nunca cometeram e nem cometerão tais atos de violência gratuita é que figura o erro. O grande, gordo e fedorento erro.

Linguagem

Daí, você já percebeu onde é que eu quero chegar. Até aqui, vimos que mamilos são coisas absolutamente proibidas e que gamers são escória da população. E, que tal um vai tomar no cú, ou um belo e sorridente foda-se?
Pois é. Palavrões.
É claro que palavrões são amorais e antiéticos. Afinal de contas, são palavrões, não é mesmo?

Não.

Superinteressante, 02/08, pag. 54, "A ciência do Palavrão".
Essa citação não é nenhuma prova besta do tipo "li na veja" não pessoal. Perae porra.

Essa é uma reportagem extremamente interessante sobre como palavrões são importantes na expressão dos nossos sentimentos. Eles são evoluídos, são instintivos, vão direto ao ponto. E isso faz muito sentido, pensa bem; se você dá o famoso bicudo na quina da (insira aqui um objeto com quina) e destroça seu dedinho, a forma mais cordial e ética de relatar o fato seria: "Ai. Bati meu dedinho. Doeu.". Porém, um grande "aiai, porra, cacete, desgraça" é bem mais expressivo e compreensível.
Palavrões, segundo a reportagem, servem também como filtros de relacionamento. Com nossos amigos, é tranquilo e até esperado que alguns palavrões sejam trocados, e tá tudo certo. No entanto você nunca vai perguntar para o seu chefe "que porra é essa" na gravata dele.
Servem também como livre expressão de sentimento, por exemplo, quando um cara marca um gol e sai xingando cada folha de grama. Marcar um gol foi bom, e os xingamentos expressam isso muito bem.

É estritamente proibido, no entanto, palavrões em filmes, programas de tv, empresas, senados, câmaras de deputados, etc. Interessante jeito de retratar a realidade, esse de excluir a forma mais expressiva de comunicação. Esses dias pra tráz, um senador mandou, lá no stadsunid, pra outro senador: "Fuck you". Sensação de notícias. "Senador perde as estriberas e ultrapassa limites"; "Presidente escreve carta reprimindo o uso de palavreado impróprio no senado". É por ae. É o santo paradoxo do eu com o seu. Pois é.

Outra dica: assistam o documentário "F*UCK", da HBO, sobre exatamente isso. Hilário.

Ciência

Esse era o lado leve da coisa. Mamilos no show, violência nos jogos, puta que pariu. Essas demonstrações dessa moral americo-cristã são chatas, mas não atrapalham muito.
Mas, e células-tronco? Engenharia genética?
Já pensou sobre isso? Esse esquema de que o homem quer se igualar a Deus e tal. Moral é uma coisa biazarra: uns 500 anos atrás, pegaram o Da Vinci no pulo, dissecando altas galeras pra estudar anatomia básica do ser humano. Ele foi linxado e considerado um doido varrido, um desses caras desagradáveis de se ter por perto. Hoje ele é visto um pouco diferente disso né. Por que será? Era imoral você pegar o corpo de alguém e picar em pedaços só pra ver como é que as coisas eram lá por dentro, mas isso salvou muitas vidas né. Logo, hoje não é mais imoral. "Foi mal aê, medicina, eu exagerei", deveria ter dito a moral, ao invés de apontar o dedo novamente pra outras instâncias da ciência.
Clonagem, célucas tronco, engenharia genética: o fato de isso ser, às vezes, anti ético e imoral, justifica o abandono da pesquisa que, um dia, pode (e é muito provável que irá) melhorar a qualidade de vida da raça humana (ok, às vezes de quem pode pagar só, por um [muito] tempo)?

Legislação

Apesar de tudo, eu acho que é aqui que o bixo pega mesmo. Proibições.
Drogas e prostituição.
São dois aspectos negativos da nossa sociedade, né.
É?
Por que?
Primeiro, drogas. Droga faz mal. Fato. Mas, a droga é ruim para a sociedade? Ou é a proibição dela que a torna uma ameaça?
Vamos analizar fatos: na Holanda, onde drogas são legalizadas e regulamentadas, existe um índice de usuários médio igual ao de outros países onde são proibidas. A diferensa básica, no entanto, é que esses usuários não sustentam um verdadeiro exército de narcotraficantes.
É isso que não entra na minha cabeça: a galera diz que o uso de drogas é imoral; a galera cria leis que proíbem o uso de drogas; surgem traficantes que provém a droga, já que não tem outro jeito; o pessoal usa; muita gente morre no processo. É justificável, então, que pelo simples fato de que o uso de drogas é imoral e antiético, centenas de pessoas devem morrer para que esse pensamento continue sendo considerado o correto?

Prostituição, mesma coisa. Tráfico de mulheres, abuso de menores, crime organizado. Ah, vocês já pegaram a idéia...

Enfim, escrevi demais já. Acho que não fui muito claro exatamente por isso. Mas deixo aqui um pedido: não me vem com comentários do tipo "Eae marcão, massa seu blog" não. Discutam comigo galera e me convidem pra mesas de botecos que eu vou de muito bom grado :D

Beijo =*

12 comentários:

Isabelle Andrade disse...

Não consegui me segurar. "Eae marcão, massa seu blog".=]
Amanhã eu leio de novo e comento, agora é dota.

-> gdgustx

Unknown disse...

Marcota, eu concordo olenamente com tudo o que vc disse aqui esse negócio de moral e o que é certo e o que é errado é muito controverso e mal compreendido. A sociedade como um todo tinha que ser mais esclarecida para poder ser mais flexível em relação a isso, além de outros fatores como preconceito, relegião e fanatismos em geral que contribuem paeaessa inflexibilidade no que tange assuntos sobre a moral :D.

PS.: Você podia ter me "quotado" quando falou sobre a exposição de mamilos :D.

PS.: "Esse cara de tatuagem, boné e piercing é vagabundo, metaleiro e malandro" (Rogê, vulgo "seu Bigode", meu pai :D)

Anônimo disse...

Ou, vem dicutir na minha casa com um pouco de ceva e eu.
=*

Anônimo disse...

É complicado...

No geral, você está correto em tudo q disse. Mas seguir moralidades é um método com suas falhas, seus absurdos. Exila-los porém, pode se tornar um perigo ainda maior.

O fato é que: como as pessoas ainda sentem (MUITA) dificuldade de pensar por sí próprias, questionar valores infundados e evoluir idéias (para o bem), seria perigoso deixar que o bom senso coletivo ditasse o certo e o errado. Quem decide isso? Eu ou você? Ou a Madri Teresa? Ou o Maluf? Até que ponto iremos chegar para um engraçadinho aparecer e querer se dar bem com esse "papel em branco"?

Sempre foi assim. E acho que, se caminharmos aos pouquinhos, como homens pensantes, nos butecos da vida, vamos de um passo de cada vez, uma mudança por época (como diria o fabuloso Grande Truque: a sociedade não suporta mais de uma grande mudança por vez), a sociedade vai melhorando :D

Ah, e esse lance de chamar pro buteco ai ein... :X

Diego Araújo disse...

É, Marcão, só pra contrariar um pouquinho, também vou com a Isabelle no "massa seu blog". (Hehe, de coração).

Mas calma aí. Fica tranquilo que posso satisfazer sua ânsia por discussão (essa sempre jumbáldica, xubiduba e necessária companheira). É claro que não vou escrever um comentário do tamanho do seu post aqui, mas acho legal expressar alguns tópicos de divergência de opinião.

Primeiro, tem uma coisa que você citou que eu tô afim de analisar. Algo muito em voga atualmente: como a moral cristã tem sido constantemente atacada pelo pensamento "moderno", apontada como causa de diversos problemas na sociedade.

Até aí nada de ilícito. Todos são livres para expressar seus credos e opiniões.

O problema está no fato de que, na grande maioria dos textos que a condenam, deduz-se que a moral cristã pode ser reduzida a um conjunto de regras aleatórias e incoerentes. Seriam fruto de uma tradição histórica retrógrada e irracional. Isso é grave, pois acaba gerando, por parte desses críticos específicos, um crescente reducionismo. É algo como uma preguiça mental, mesmo inconsciente. As pessoas passam a fazer generalizações que, para mim, chegam ao ponto de se tornarem dogmas, e apresentam até mesmo noções tão fundamentalistas quanto muitas denominações religiosas por aí.

Para entender a ética que permeia um determinado sistema de pensamentos, é preciso, sim, muita dedicação. Imersão, empenho. Pois aquilo que analisamos de perto sempre pode ser melhor ou pior do que imaginamos. Nunca a mesma coisa.

Fazendo um contraponto, no entanto, eu até entendo porque a moral conservadora é tão atacada. Pegamos os nossos colegas dos "Stazunids", por exemplo. As exóticas contradições apresentadas por este país deixam expostas várias e perigosas incoerências. Afinal, é dose ver tiozinhos republicanos que fazem parte da NRA (National Rifle Association) e, ao mesmo tempo, querem proibir games violentos. Que combatem a "pouca-vergonhice" na TV, ao mesmo tempo que comemoram um bombardeio bem-sucedido no Iraque.

Em matéria de hipocrisia, pobre de quem acha que o tal do bicho-homem não consegue sempre se superar... Mas não podemos generalizar, pois isso é cair em igual incoerência.

Para não me alongar muito (mais) e deixar a discussão em aberto (pras reuniões jumbáldicas da vida), analisemos brevemente o caso "peitinhos da Srta. Jackson”. A revolta com o acontecido não se baseia em uma noção de certo e errado burra e aleatória. Toma como base princípios fundamentais do respeito à pessoa humana, talvez um dos mais universais valores, apregoados, pelo menos teoricamente, pela grande maioria das nações. Calma. Vou explicar porque: é diferente, sim, a exposição do seio de uma mãe que amamenta seu filho e de uma artista apresentando-se sensualmente em rede pública nacional. O motivo é simples: a atitude com relação à pessoa. A mãe que amamenta está realizando um ato natural, necessário e, humanamente falando, dotado de muito amor. O bebê cumpre sua necessidade física mas, em sua incapacidade intelectual de valorar suas atitudes (inocência, se preferir), não age por prazer. Não há lascividade, não se trata o outro como objeto, não se deixa o outro tratá-lo como objeto.

Portanto, se eu fosse um pai de família americano, me revoltaria sim. Não gostaria que meus filhos fossem iludidos a glamourizar tal atitude.

Infelizmente os homens, em geral, não são capazes de estabelecerem, por si próprios, um conjunto coeso de atitudes pautadas em uma moral pessoal autêntica. É necessário, portanto, pautar-se na humanidade como um todo, pois sempre haverá fraquezas em um sistema de valoração pessoal, ou que siga preceitos impensados. Como ponto de partida, não posso enxergar referencial melhor do que o respeito ao próximo e à vida. Ou simplesmente amor, como alguns bravos ousam definir tal atitude.

Diego Araújo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diego Araújo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diego Araújo disse...

E quanto ao senhor Jack Thompson, ele chegou às suas conclusões à respeito dos games, com razão, após presenciar tal cena (reação de seu neto a um presente de natal...)

http://www.youtube.com/watch?v=pFlcqWQVVuU

(acho que, há uns 10 anos atrás, eu teria a mesma reação do moleque, hehe)

Anônimo disse...

Eae marcão, massa seu blog

Anônimo disse...

Novamente excelente!
(Se vc quiser conversar com alguem procura uma terapeuta)

Anônimo disse...

Concordo e discordo de todos vcs

Isabelle Andrade disse...

e a europa, marcaum!

--> ftvrohm!