Eae galera. Eu estava pensando sobre essa nossa sociedade maluca, e sobre como essas palavrinhas ai do título causam confusão. Hoje eu vou tentar mostrar pra vocês, com muita brutalidade e nenhum espaço para contra-argumentação, a minha visão sobre as denominadas moral e ética da atualidade.
Cultura e entreterimento
Vou narrar um fato pra vocês: numa fatídica tarde de domingo, durante o evento mais assistido da tv norte-americana, a final do Super Bowl, uma bomba. No intervalo, quando diversos artistas fodásticos da atualidade realizam o seu trampo, seja lá qual for ele, acontece: Justin Timberlake e Janet Jackson, numa apimentada performace no palco, se empolgam um pouco mais, Justin arranca uma parte da roupa de Janet e, exposto aos olhos de milhões, um mamilo decorado com um sol de prata.
Impressionante né pessoal: um esporte, um mamilo, um desastre. Por causa desse pedaço de corpo humano que todo mundo um dia chupou, a emissora de tv CBS levou uma multa daquelas, todos os noticiários do país comentaram extensivamente a falta de respeito para com o cidadão americano por parte dos artistas, e foram criadas regras detalhadas de comportamento sobre o palco desse evento.
Cara, por que?
Eu não entendo. Mas analizemos. É tão revoltante assim, uma real falta de respeito? Eu já presenciei várias vezes, por exemplo, mães de bebês de colo amamentando seus filhos em público. Ninguém pareceu se importar. Vejamos então o contexto: duas pessoas dançando e cantanto, um mamilo sai pra fora; dedução básica, sexo. Uma mãe amamentando seu filho na arquibancada daquele mesmo evento; dedução básica, nada, de boa, tá certinha uai. Qual será de fato o problema?
Essa moral norte-americana, defendida a toda custa por diversos orgãos privados e governamentas com suas siglas esquisitas é, na minha opinião, um desastre. O julgamento de certo e errado é prematuro, infundado e propagandeado como absoluto. Esse caso do Super Bowl é só uma caricatura de tudo isso, mas vamos pegar um outro exemplo.
Jack Thompson.
Pra quem não conhece, esse cara é um advogado norte-americano que tem como objetivo de vida crucificar todos os games que contém violência. Sabem aqueles casos que acontecem lá nos states, quando um cara dá a louca, pega uma(s) arma(s), saem matando todo mundo e depois se auto-despacham para o além? Pois é, em todos eles, nos últimos 10 anos, Jack Thompson afirmou que o autor do absurdo é obviamente um gamer. Com esse egocentrismo mesmo. "Se um rapaz que nunca fez mal a ninguém, nunca teve nenhum incidente violento na vida e, de repente, mata 7 pessoas da escola em que estuda, ele é obviamente um gamer, treinado para a violência por jogos eletrônicos". E põe fechar aspas nisso viu. O interessante é que em apenas um desses casos houve qualquer indício de games envolvidos, aquele de Columbine, lembra? Pois é. Só um.
E qual é a moral por traz dessas afirmações? Sãos games abusivamente violentos a causa de estopíns sangrentos de adolescentes americanos? É certo, então, que o fácil acesso a armas de fogo não contribui com esses ataques? Apesar de países asiáticos como Coréia do Sul e Singapura terem a maior população gamer do planeta, não possuem nem um décimo de incidentes desse tipo quanto os EUA. Hmmmm... interessante né. Mas, e a moral? E a ética?
Em sua maioria, a população norte-americana apoia as pelejas de Jack Thompson. E, aparentemente, o Estado Brasileiro também né. Ou seja, teoricamente, as afirmações desse cara são bastante alinhadas com a moral da não-violência. No meu ver, no entanto, essa descriminação com as pessoas que jogam sim os jogos violentos e nunca cometeram e nem cometerão tais atos de violência gratuita é que figura o erro. O grande, gordo e fedorento erro.
Linguagem
Daí, você já percebeu onde é que eu quero chegar. Até aqui, vimos que mamilos são coisas absolutamente proibidas e que gamers são escória da população. E, que tal um vai tomar no cú, ou um belo e sorridente foda-se?
Pois é. Palavrões.
É claro que palavrões são amorais e antiéticos. Afinal de contas, são palavrões, não é mesmo?
Não.
Superinteressante, 02/08, pag. 54, "A ciência do Palavrão".
Essa citação não é nenhuma prova besta do tipo "li na veja" não pessoal. Perae porra.
Essa é uma reportagem extremamente interessante sobre como palavrões são importantes na expressão dos nossos sentimentos. Eles são evoluídos, são instintivos, vão direto ao ponto. E isso faz muito sentido, pensa bem; se você dá o famoso bicudo na quina da (insira aqui um objeto com quina) e destroça seu dedinho, a forma mais cordial e ética de relatar o fato seria: "Ai. Bati meu dedinho. Doeu.". Porém, um grande "aiai, porra, cacete, desgraça" é bem mais expressivo e compreensível.
Palavrões, segundo a reportagem, servem também como filtros de relacionamento. Com nossos amigos, é tranquilo e até esperado que alguns palavrões sejam trocados, e tá tudo certo. No entanto você nunca vai perguntar para o seu chefe "que porra é essa" na gravata dele.
Servem também como livre expressão de sentimento, por exemplo, quando um cara marca um gol e sai xingando cada folha de grama. Marcar um gol foi bom, e os xingamentos expressam isso muito bem.
É estritamente proibido, no entanto, palavrões em filmes, programas de tv, empresas, senados, câmaras de deputados, etc. Interessante jeito de retratar a realidade, esse de excluir a forma mais expressiva de comunicação. Esses dias pra tráz, um senador mandou, lá no stadsunid, pra outro senador: "Fuck you". Sensação de notícias. "Senador perde as estriberas e ultrapassa limites"; "Presidente escreve carta reprimindo o uso de palavreado impróprio no senado". É por ae. É o santo paradoxo do eu com o seu. Pois é.
Outra dica: assistam o documentário "F*UCK", da HBO, sobre exatamente isso. Hilário.
Ciência
Esse era o lado leve da coisa. Mamilos no show, violência nos jogos, puta que pariu. Essas demonstrações dessa moral americo-cristã são chatas, mas não atrapalham muito.
Mas, e células-tronco? Engenharia genética?
Já pensou sobre isso? Esse esquema de que o homem quer se igualar a Deus e tal. Moral é uma coisa biazarra: uns 500 anos atrás, pegaram o Da Vinci no pulo, dissecando altas galeras pra estudar anatomia básica do ser humano. Ele foi linxado e considerado um doido varrido, um desses caras desagradáveis de se ter por perto. Hoje ele é visto um pouco diferente disso né. Por que será? Era imoral você pegar o corpo de alguém e picar em pedaços só pra ver como é que as coisas eram lá por dentro, mas isso salvou muitas vidas né. Logo, hoje não é mais imoral. "Foi mal aê, medicina, eu exagerei", deveria ter dito a moral, ao invés de apontar o dedo novamente pra outras instâncias da ciência.
Clonagem, célucas tronco, engenharia genética: o fato de isso ser, às vezes, anti ético e imoral, justifica o abandono da pesquisa que, um dia, pode (e é muito provável que irá) melhorar a qualidade de vida da raça humana (ok, às vezes de quem pode pagar só, por um [muito] tempo)?
Legislação
Apesar de tudo, eu acho que é aqui que o bixo pega mesmo. Proibições.
Drogas e prostituição.
São dois aspectos negativos da nossa sociedade, né.
É?
Por que?
Primeiro, drogas. Droga faz mal. Fato. Mas, a droga é ruim para a sociedade? Ou é a proibição dela que a torna uma ameaça?
Vamos analizar fatos: na Holanda, onde drogas são legalizadas e regulamentadas, existe um índice de usuários médio igual ao de outros países onde são proibidas. A diferensa básica, no entanto, é que esses usuários não sustentam um verdadeiro exército de narcotraficantes.
É isso que não entra na minha cabeça: a galera diz que o uso de drogas é imoral; a galera cria leis que proíbem o uso de drogas; surgem traficantes que provém a droga, já que não tem outro jeito; o pessoal usa; muita gente morre no processo. É justificável, então, que pelo simples fato de que o uso de drogas é imoral e antiético, centenas de pessoas devem morrer para que esse pensamento continue sendo considerado o correto?
Prostituição, mesma coisa. Tráfico de mulheres, abuso de menores, crime organizado. Ah, vocês já pegaram a idéia...
Enfim, escrevi demais já. Acho que não fui muito claro exatamente por isso. Mas deixo aqui um pedido: não me vem com comentários do tipo "Eae marcão, massa seu blog" não. Discutam comigo galera e me convidem pra mesas de botecos que eu vou de muito bom grado :D
Beijo =*